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quarta-feira, 6 de abril de 2011

"Eliminar xenofobia valerá sempre a pena"

"Fernando Santos (actual treinador da equipa de Basquetebol do Beira-Mar) e a alteração de regulamentos da FPB, "Eliminar xenofobia valerá sempre a pena"

Fernando Santos foi um dos primeiros a chamar a atenção para uma ilegalidade nas provas da Federação Portuguesa de Basquetebol. Na altura, encontrava-se a treinar a equipa de basquetebol masculino da Universidade de Aveiro e sentiu 'na pele' um problema que deixou sem competir um atleta seu, David Lopez, estudante espanhol que tinha escolhido o nosso país para continuar a sua formação académica. Era, também, jogador de basquetebol e tinha o interesse em manter a sua actividade desportiva. Como membro da Amnistia Internacional, Fernando Santos não quis deixar passar em claro um problema de discriminação racial e deu alguns passos importantes para que esta situação fosse alterada e para que o basquetebol nacional estivesse de acordo com as leis em vigor nos países da União Europeia. A 'luta' continuou, sendo conhecidos mais alguns casos de cidadãos europeus que queriam praticar basquetebol federado em Portugal e não podiam devido aos regulamentos das respectivas competições. No primero trimestre de 2011 a Federação Portuguesa de Basquetebol alterou os seus regulamentos, e agora já será permitida a inscrição de jogadores comunitários nas provas federativas. Depois desta vitória alcançada por quem lutou pelos direitos de cidadania no basquetebol português, fomos falar com Fernando Santos, um dos grandes impulsionadores deste processo, tendo posto a circular a petição 'Basquetebol português livre de xenofobias'.


Foste um dos primeiros a chamar a atenção para uma ilegalidade nas provas da FPB. Ao fim de alguns anos, sentes que valeu a pena começar um processo que ajudou a terminar com a violação dos direitos dos cidadãos europeus que queiram praticar basquetebol em Portugal?

Eliminar qualquer forma de xenofobia valerá sempre a pena. É óbvio que esta era uma "batalha" ganha à partida. Mas seria injusto não agradecer a todos os que apoiaram esta causa: Instituto do Desporto de Portugal, Amnistia Internacional Portugal e, sobretudo, todos os que assinaram a petição que coloquei na internet. A todos o meu sincero Muito Obrigado, em nome do presente e do futuro do basquetebol português.

Na época em que te deparaste com esta ilegalidade, foi fácil explicar a um atleta teu que não poderia participar no CNB2?

Como estamos a falar de pessoas e não de números, o atleta em questão chama-se David Lopez e nasceu em Valladolid. Por esse facto (ter nascido em Valladolid) foi castigado uma época inteira pela FPB. Sem dúvida que foi difícil explicar o inexplicável. O David treinava exemplarmente (!) todos os dias e ao fim de semana tinha que ficar sentado na bancada apenas por ter nascido onde nasceu... Felizmente o David pertencia a uma grande equipa que actuava em dois campeonatos (FPB e FADU) e uma dessas federações já cumpria a lei. Irónico é o facto de, após ter sido Campeão Nacional Universitário, o David ter representado no Campeonato Europeu desse ano, na Sérvia, este Portugal que o impediu durante toda uma época de jogar basquetebol sob a alçada da FPB. Foi aí que lhe fiz a promessa de que tudo iria fazer para mudar este cenário, pois acredito que uma das missões de um treinador é influenciar o contexto de modo a potenciar o rendimento dos atletas. Como não tenho o hábito de deixar por cumprir promessas feitas a atletas, demorou quatro anos mas está cumprida!

Como explicas que em pleno Século XXI, e quando tanto se apregoa à abolição da discriminação racial, os regulamentos da FPB não estivessem de acordo com as leis em vigor na União Europeia? Antes das possíveis explicações, apenas um ponto prévio para contextualizar: estamos a falar de um país de doutorados (ou catedráticos...) em futebol e analfabetos em desporto! Um país com um défice gigantesco de cidadania, onde há um medo omnipresente de confrontar quem está no poder devido ao risco de "danos colaterais" aos mais variados níveis. Acresce que o basquetebol vive, há vários anos isolado do resto da Europa, sendo talvez o maior exemplo o facto de termos estado cerca de 50 anos sem fazer um único jogo com o país vizinho que foi, somente, campeão do mundo da modalidade. O resultado? Temos uma "paz podre" que impede a inovação, o confronto de ideias, a oposição ao nível das práticas. No basquetebol luso actual temos a mediocridade instalada, notando-se uma enorme aversão à meritocracia. Cabe à Federação da modalidade alterar esta realidade, este contexto. Mas como fazê-lo se temos o presidente que há mais anos está calcificado no poder, em comparação com todas as restantes modalidades?... Como fazê-lo se reelegemos, escandalosamente, uma Direcção que pratica, defende e promove a xenofobia? Como fazê-lo se a Associação de Jogadores, a existir, se demite da sua função de defender todos os jogadores? Poderão estar nestas linhas as explicações. Ou não...

Muitas das reivindicações tinham como ponto central a violação dos direitos dos cidadãos europeus, e surgiam nas divisões inferiores do basquetebol português. No entanto, não te parece que esta regra poderá também influenciar a construção dos plantéis de equipas das principais divisões?

Claro que sim. Esta é uma realidade incontornável. Mas já há alguns anos que outros plantéis são influenciados por esta cidadania europeia. A título de exemplo, muitos plantéis de empresas, de escolas, de hospitais e até de famílias já têm vindo a ser influenciados por esta realidade que não é nova. Acredito que todos devemos trabalhar para minimizar as possíveis "dores de crescimento" desta inclusão efectiva no continente europeu... Ou então assumir de vez que não nos revemos na Europa, rejeitar a condição de cidadãos europeus e começar a competir, por exemplo, na FIBA África (já temos Supertaça e tudo...).

Acreditas que os regulamento serão cumpridos à risca, ou haverá algum 'acordo' entre as equipas para que continuem a haver limites à utilização de jogadores não portugueses?

Antes de mais, parece-me que esta FPB perdeu qualquer legitimidade para continuar em funções. De facto, nos estatutos em vigor pode ler-se, na alínea "c" do artigo 16.º que "podem ser eleitos para os órgãos da FPB todos os indivíduos que (...) não tenham sido punidos pela prática de qualquer infracção de natureza criminal, contra-ordenacional ou disciplinar em matéria de (...) xenofobia, até cinco anos após o cumprimento da pena". Se juntarmos a esta informação o que consta do artigo 18.º do mesmo documento: "os titulares de órgãos da FPB perdem o mandato, entre outras causas previstas na lei (...) quando, após as eleições, fiquem colocados em situação que os torne inelegíveis ou de incompatibilidade", moralmente esta Direcção há muito que não apresenta a robustez necessária para defender dignamente o basquetebol luso. Mas, respondendo directamente à questão, surpresa para mim será se não tentarem chegar a um acordo que artificialmente defenda os valores xenófobos que valeram a esta Direcção a sua reeleição."


Entrevista em: http://www.basketpt.com

3 comentários:

Anónimo disse...

ESte gajo já está careca, porra.

Anónimo disse...

O homem é o verdadeiro engenheiro do penta e agora é o selecionador grego, força Nando.

Anónimo disse...

Para que não restem dúvidas do enorme Homem que é também um excelente treinador, que temos à frente da nossa equipa de basquete. Que fique muitos e bons anos!