A ideia peregrina da SAD

A ideia peregrina da SAD

Foi tema da semana passada a criação de uma SAD para o futebol profissional do Beira-Mar após as declarações de Artur Filipe que defende que tal medida seria a única forma de resolver os problemas do Beira-Mar.
Desde já cumpre destacar 3 aspectos: 1) Já não é o 1.º a defender a constituição de uma SAD para o futebol profissional do Beira-Mar. 2) Quanto a nós, a criação da mesma seria, precisamente, o fim do clube e não a solução. 3) A ilusão do investimento estrangeiro.

1) De facto, já outras figuras de relevo do universo “Beira-Mar” avançaram com essa possibilidade e até por isso não queremos, nem seria justo personalizar a questão no actual presidente, já por si bastante desgastado e desorientado. (Curioso… Então não é que, quando anuncia a sua saída para breve é que começa a avançar com propostas, ideias, projectos? Até parece que não foi presidente nos últimos anos). A razão pela qual o mesmo defende tal posição é simples e prende-se com as mesmas questões que estiveram na origem do “caso das piscinas”. A questão das garantias pessoais prestadas pelo núcleo duro da actual direcção. Pergunta: É legítimo quererem recuperar o que investiram. Resposta: Sim. Mas nunca à custa do clube, através de actos/medidas lesivas dos interesses e património deste. Esta questão também vai aliás de encontro com aquilo que defendemos há muito: O clube não pode estar refém de determinada(s) pessoa(s) ou entidade(s) que num momento inicial injectam capital para posteriormente o irem buscar deixando, no entanto, o clube pior do que estava no primeiro momento uma vez que nem se preocuparam em (re)estruturar o clube com vista ao equilíbrio financeiro. É que, obviamente, 1.º momento por si só é muito bom (injecção de capital) mas se nada for feito em termos de estratégicos a médio longo/prazo, o capital investido esgota-se rapidamente. Esta é, aliás, uma das principais críticas que se podem apontar à actual direcção: A total falta de programação e planeamento das épocas desportivas que originou passivo muito significativo tendo em conta o passado recente anterior do clube.

2) Somos cépticos quanto à viabilidade das SAD’s para clubes de pequena/média dimensão. É, desde logo, um problema de dimensão do mercado do futebol português, já por si diminuta. Composto, ainda por cima, quase exclusivamente pelos 3 grandes. A pouca de receita que os clubes mais pequenos conseguem “amealhar” não permite grandes sonhos quanto a esta matéria. E agora pergunta-se: Uma SAD no Beira-Mar? Para quê? E… neste momento?!?! Seria uma sociedade descapitalizada. O “activo” desta seria formado pelo aludido investimento estrangeiro abordado em 3) e pelos passes dos jogadores da equipa de futebol profissional. E que jogadores… como sabemos. A juntar a isto, o facto do volume de receitas do Beira-Mar em termos de bilheteira, quotas, merchandising ser extremamente reduzido. Considerando, ainda, a já aludida dimensão do mercado português é fácil adivinhar qual o desfecho desta medida: Fracasso total. Com a possibilidade de num curto espaço de tempo ser extinta e com ela o futebol profissional do clube. Já há vários exemplos.

3) “A cereja no cimo do bolo” é a “tentação” do investimento estrangeiro já com a alusão ao nosso velho conhecido Cursach. Como é possível? Depois de tudo o que aconteceu… repetir o erro? Reparem até que ponto as coisas são confusas e perigosas. Compreendemos que há compromissos assumidos, o homem já percebeu que não vai receber na data combinada e caramba, tem de reaver o dele. Daí não os chamarmos de burros quando repetem o erro porque a razão para tal está condicionada pelos interesses convergentes dos protagonistas e simultaneamente lesivos para o clube. Cursach já tem a Inverfutbol, empresa que se dedica a transferir jogadores. Imaginem a confusão: Cursach estaria, desde logo, dos 2 lados: Do que compra e do que vende! De quem seriam na realidade os jogadores que formam? Quem compraria os jogadores? A quem? (em termos de representação dos mesmos) O Beira-Mar só jogaria com jogadores de determinados empresários? E quando se vende um jogador? O dinheiro vai para quem? E o balneário? Como vai reagir perante o facto de determinado jogadores terem de jogar porque são do “patrão? Mas podem responder: A Inverfutbol tem bons jogadores e pode conferir um acrescento em termos de qualidade. Concordamos em parte, sem duvida. Gostámos do Delibasic, por exemplo. Mas também gostávamos do Matheus, emprestado pelo Braga, que só entrava a 15 minutos do fim. Mas não pensem que a Inverfutbol consegue convencer os melhores jogadores da sua carteira a virem para o Beira-Mar. Nem os de 2ª ou 3ª linha. É o tal problema da dimensão do futebol português, numa primeira linha e depois o estado do próprio clube que está e estará na II liga. Obviamente que qualquer investimento, seja estrangeiro ou nacional tem de partir de uma premissa: Conhecimento do mercado português, sobretudo das divisões secundárias. Só dessa forma o Beira-Mar poderá comprar barato e bom para posteriormente vender mais caro. Existe, conforme supra exposto, uma panóplia de situações que nos obrigam a ser veementes: Recusar a ideia peregrina da SAD, que não passa de mais uma fuga em frente com a agravante de poder constituir caso seja adoptada, nestes termos, o fim do futebol profissional do Beira-Mar a curto/médio prazo. Cumpre distinguir o interesse do clube e dos seus dirigentes. Cabe aos sócios decidir.